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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Disciplina Eclesiástica - Evitando os Extremos!



A igreja deve agir em nome e na autoridade de Cristo.
A palavra disciplina vem do latim discere – “aprender” a mesma raiz da palavra “discípulo”1. Disciplina é “ensino, instrução, educação, submissão a um regulamento”. No hebraico é musar (Dt 11:2; Pv 5:12; 15:10, etc), que, além de disciplina, significa também “instrução, advertência, castigo”. “O termo musar significa ‘disciplina’ mas é mais que isso. [...] Ele ensina como viver corretamente no temor do Senhor”. Já os escritores do Novo Testamento empregaram, entre outras, a palavra paidéia (Ef 6:4; 2Tm 3:16; Hb 12:5, 7, 8, 11, etc), com o significado de “treinamento” “disciplina” – do verbo paideuo, cujo significado é instruir, treinar, educar, corrigir (algumas vezes esse verbo é também empregado com o sentido de punir, castigar). É verbo utilizado para se referir à instrução de crianças,5 base para a palavra pedagogia – treinamento de uma criança.6 Paidéia, no Novo Testamento (especialmente nas epístolas paulinas), visa o mesmo que as Escrituras Sagradas, que é o “ensino, a repreensão, a correção e a educação [paidéia] na justiça” (cf. 2Tm 3:16).
Como visto, a idéia primeira da palavra disciplina não é castigar, punir (às vezes é empregada também com estes sentidos), mas sim ensinar, instruir, educar alguém. Assim, ao pensarmos em disciplina, deveríamos ter em mente que ela é, primeiramente, corretiva, e não punitiva. E esse deveria ser o objetivo de todo líder religioso ou membro de comissão de igreja (e das demais comissões) quando se reúnem para estudar casos em que a disciplina deve ser administrada a um membro do corpo de Cristo. A disciplina nunca deveria parecer vingança contra alguém.
É fato que a igreja tem o direito e o dever de disciplinar seus membros. Tal autoridade foi-lhe dada pelo próprio Cristo, quando disse aos Seus discípulos (e por extensão à Sua igreja): “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra terá sido ligado nos Céus, e tudo o que desligardes na Terra terá sido desligado nos Céus” (Mt 18:18). Assim, a igreja age em nome e na autoridade de Cristo mesmo, e o espírito por trás da disciplina deve também ser o de Cristo – de corrigir, elevar, restaurar e curar.
O ideal é que nenhum membro precisasse ser disciplinado. Mas como a igreja é composta por pessoas que ainda têm a natureza carnal, vez ou outra, elas cometem pecados. Alguns casos são resolvidos entre o pecador e Deus; outros, entre ofensor e ofendido, e que não trazem opróbrio sobre a igreja. Nesse caso, a disciplina eclesiástica não é necessária. Mas há pecados que, quando vêm a público, escandalizam grandemente os irmãos, atentam contra o bom nome da igreja e suas normas, e a expõem negativamente perante os descrentes. Nessa circunstância, cabe disciplina eclesiástica, para que sejam preservados o bom nome da igreja e as normas cristãs. “Deus considera Seu povo como um corpo, responsável pelos pecados que existem em indivíduos em seu meio. Se os dirigentes da igreja negligenciam buscar com diligência os pecados que trazem o desfavor de Deus sobre a corporação, eles se tornam responsáveis por estes pecados.”
Mas, nessa questão da disciplina eclesiástica, há dois riscos: de um lado, a indulgência, ou seja, não ser firme e pronto em tratar com os pecados dos irmãos; e do outro lado, aplicar a disciplina com um espírito farisaico e destituído de amor. Indulgência é misericórdia sem justiça, farisaísmo é justiça sem misericórdia. Esses dois extremos são mais bem explicitados com as situações de pecado entre os irmãos da igreja de Corinto, relatadas em 1 Coríntios 5:1-13 e 2 Coríntios 2:5-11. Analisemos esses versos paulinos e tiremos as lições que eles contêm quanto ao assunto da disciplina eclesiástica.

Um extremo: Misericórdia sem Justiça

I Co 5:1-13 – Um membro da igreja de Corinto havia cometido “imoralidade” (5:1) com a “mulher de seu próprio pai” – não a mãe do rapaz, mas sua madrasta ou uma concubina de seu pai.
A palavra grega traduzida por ”imoralidade” é pornéia, e pode ser empregada, em sentido amplo, para designar qualquer ato sexual ilícito. Aqui , no contexto de 1 Coríntios 5:1-13, ela deve ser entendida como ”fornicação” (sexo praticado por pessoa solteira), “prostituição” e “imoralidade” Deve-se notar que o fato de Paulo não empregar a palavra moichéia (adultério), e sim, pornéia, talvez possa indicar que o pai do rapaz já fosse falecido. Tratava-se, portanto, de um caso de incesto, condenado tanto pelas leis judaicas (ver Dt 22:30; 27:20), quanto pelas romanas.
Face à gravidade do pecado de um de seus membros, o que fez a igreja de Corinto? Nada, nenhuma tentativa para resolver a situação. Ao contrário: andavam “ensoberbecidos” (ICo 5:2), ou seja, em vez de baixarem a cabeça e ficarem envergonhados pelo ocorrido, estavam cheios de orgulho espiritual (isso não quer dizer que aprovavam o ato do rapaz, mas que, apesar da gravidade do ato, ainda se sentiam orgulhosos espiritualmente). E, como conseqüência, nem chegaram a se lamentar pelo ocorrido (5:2).
Devido à indulgência e frouxidão da liderança e dos membros da igreja de Corinto, Paulo ordenou-lhes que o ofensor fosse “tirado” do meio deles (5:2), ou seja, fosse desligado da igreja (cf. Mt 18:18). Além disso, que também fosse “entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus]” (5:5). Essas são palavras fortes, mas apropriadas ao caso. “Ser entregue a Satanás” aqui, equivale a ser “tirado” ou desligado do corpo de Cristo – a igreja. Como só há dois reinos, o de Cristo e o de Satanás, o jovem deveria ser ”posto” onde ele mesmo já se encontrava: no reino do inimigo. Isso deveria causar um choque ao ofensor, fazê-lo compreender a enormidade e gravidade de seu ato, e levá-lo ao arrependimento. Mas como a igreja nada fizera para discipliná-lo, ele estava no reino de Satanás, pensando estar ainda no reino de Deus. Se o moço aceitasse a disciplina, confessasse seu ato e dele se arrependesse, poderia ter “sua carne destruída” – expressão de difícil entendimento, mas provavelmente se refira à situação de se vencer as tentações carnais que levavam esse rapaz ao pecado. Se ele fosse um vencedor de suas tendências imorais e fornicarias, seu “espírito” (ele mesmo) seria salvo “no Dia do Senhor” (uma referência à segunda vinda). E se isso ocorresse, estaria cumprido o objetivo maior de toda disciplina: a conscientização e salvação do ofensor.

O outro extremo: Justiça sem Misericórdia

2 Co 2:5-11 – Em sua segunda epístola à igreja de Corinto, Paulo fala de alguém que pecara, fora disciplinado, mas fora também banido do amor e da simpatia dos membros da igreja (2Co 2:5-11) – uma situação exatamente oposta àquela mencionada em sua primeira carta, como foi visto.
De acordo com 2 Coríntios 2:5, o ex-membro havia causado “tristeza” à igreja (não nos é dito o que ele havia feito). Alguns o identificam com o jovem fornicário de 1 Coríntios 5:1-13), que fora disciplinado “pela maioria” (2:6) – procedimento correto adotado, visto que a disciplina é ministrada não por uns poucos membros, nem ainda pela comissão da igreja (que apenas estuda o caso e recomenda a disciplina), mas pela maioria dos membros da igreja, presentes a uma reunião administrativa devidamente convocada.
Pelo relato paulino, vê-se que a disciplina cumprira seu propósito de conscientizar e levar o ofensor e ex-membro à confissão e ao arrependimento. Ele estava triste pelos atos praticados. Mas sem o perdão, conforto, amor e simpatia de seus irmãos de fé, estava sendo “consumido por excessiva tristeza” (2:7). Esse é um caso típico de “zelo sem entendimento” de justiça sem misericórdia. Se no caso do moço fornicador de 1 Coríntios 5 faltou firmeza e justiça (aspecto firme do amor), no caso mencionado na 2a carta aos Coríntios faltou misericórdia (a face suave do amor) e sobrou zelo farisaico. A verdade é que, por sua atitude penitente e arrependimento, o irmão disciplinado merecia nova chance. Por isso, Paulo roga aos irmãos de Corinto: “Que confirmeis para com ele o vosso amor” (2:8). E, em assim fazendo, não permitiriam que Satanás (o instigador de todo o mal) alcançasse vantagem sobre a igreja (2:11). O fato é que Satanás alcança vantagem quando a igreja é omissa e frouxa quanto à disciplina, bem como quando ela disciplina com um zelo destituído de amor. A frouxidão embala o membro com uma falsa segurança quanto à sua salvação, enquanto o zelo farisaico impede o retorno do irmão arrependido.
“Quando a pessoa que errou se arrepende e se submete à disciplina de Cristo, cumpre dar-lhe outra oportunidade. E mesmo que se não arrependa e venha a ficar colocada fora da igreja, os servos de Deus têm o dever de envidar esforços com ela, buscando induzi-la ao arrependimento. Se a pessoa se render à influência do Espírito de Deus, dando evidência do seu arrependimento, confessando e renunciando ao pecado, por mais grave que tenha sido, deve merecer o perdão e ser de novo recebida na igreja. Aos seus irmãos compete encaminhá-la pela vereda da justiça e tratá-la como desejariam ser tratados em seu lugar, olhando por si mesmos para que não sejam tentados de idêntico modo.
Pelo visto, os irmãos de Corinto, ao tratarem do caso desse irmão que havia causado tristeza à igreja, demonstraram sofrer de SIMV – Síndrome do Irmão Mais Velho – , relatada em Lucas 15:25, cujos sintomas são um coração cheio de ira (Lc 15:28), queixoso (15:29) e condenador (15:30), em relação ao irmão que saiu de casa, mas que voltava arrependido. Enquanto uma festa acontecia dentro de casa para comemorar a volta do irmão desgarrado, o irmão mais velho preferiu ficar no alpendre. Será que o pai conseguiu persuadi-lo a entrar? A parábola deixa essa questão em aberto, justamente para que cada ”irmão mais velho” (membro da igreja que nunca precisou ser disciplinado) diga se participará da festa quando um membro faltoso se arrepende e retorna, ou se ficará no alpendre do farisaísmo e da falta de simpatia e amor.
Pense bem nisto! Tenha um bom dia!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Graça sobre Graça!


Todos recebemos da Sua plenitude, graça sobre graça. João 1:16

Usamos a palavra “graça” tantas vezes que nem nos preocupamos com seu significado. Assim, dizemos: ela dança com graciosidade, beleza, elegância; cair em graça; e que graça tem, quando falamos de alegria. O governo declara um ato de graça, absolvição e não condenação de um culpado. O mundo dos negócios tem um pobre conceito de graça. As financeiras e administradoras de cartão de crédito falam em “período de graça”, ou seja, o período entre a data de compra e o vencimento de uma fatura. As seguradoras e instituições previdenciárias falam em período de graça, quando o segurado não tem condições por si só de contribuir com o sistema, mas conserva os direitos de segurado. Nós também damos graças antes das refeições. Assim, gratidão, benefício e outras palavras compartilham algum significado com a palavra “graça”.

Jonas Merrit ilustra a graça da seguinte maneira: “Quando um homem trabalha oito horas por dia e recebe pelos seus esforços, isso é salário. Quando compete com um concorrente e o derrota num concurso, ele recebe um troféu. Isso é prêmio. Quando ele recebe alguma coisa em reconhecimento pelo bom trabalho ou realização, isso é condecoração. Mas quando o homem não pode ganhar nenhum salário, nem ganhar nenhum troféu e não merece nenhuma condecoração e, mesmo assim, recebe salário, prêmio e condecoração, isso é graça.”

A expressão do texto de hoje, graça sobre graça, tem a finalidade de mostrar a natureza da graça em relação à salvação, que nos habilita e satisfaz as nossas necessidades. Deus quer também que mostremos ao mundo como as pessoas que O receberam foram capacitadas a viver de maneira diferente e experimentar Sua paz. “Não compreendo todo o mistério da graça, somente que ela vem nos encontrar onde estamos, mas não nos deixa onde nos encontrou” (Anne Lamot).

Numa visita que fez a John Newton, autor do hino “Graça Excelsa”, um amigo leu para ele a passagem de 1 Coríntios 15:10: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou.” E Newton comentou: “Eu não sou o que devia ser, tão imperfeito e cheio de faltas! Eu não sou o que queria ser, aborrecer o mal e me apegar àquilo que é bom. Eu não sou aquilo que esperava ser: abandonar todo pecado e imperfeição... Mesmo assim eu não sou o que podia ser, nem aquilo que queria ser ou que esperava ser. Posso verdadeiramente dizer que eu não sou o que uma vez fui – um escravo do pecado e de Satanás; posso de todo o coração me unir com o apóstolo e reconhecer que, ‘pela graça de Deus, sou o que sou’.”

Você tem praticado isso também com as pessoas que são como você? Pecadoras? Pensem!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Dor do Quase!!!



Então Agripa disse para Paulo: “Você quase me persuade a me tornar um cristão.” Atos 26:28, New King James Version

Um texto atribuído a Luis Fernando Veríssimo diz: “Ainda pior do que a convicção do não, e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou, ainda joga, quem quase passou, ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou, não amou.”

A palavra “quase” é uma dessas que poderia ser chamada de palavra que traz pena e causa dó. Significa “bem perto, mas não o suficiente; por um pouquinho, por um triz”.

O “quase” fala de oportunidades perdidas: quase alcancei, quase cheguei ao topo da montanha, quase chegamos em tempo. Perto do portão, mas do lado de fora; perto do redil, mas não dentro.

“A dor do quase” foi como alguns jornais denominaram a derrota do Fluminense diante da LDU do Equador, na final da Libertadores, em 2008. O Fluminense, que perdera por 4 x 2 em Quito, precisava vencer por três gols de diferença. Venceu por 3 x 1 no tempo regulamentar. A partida se estendeu para a prorrogação e nos pênaltis o Fluminense foi quase campeão.

A palavra “quase” transparece no relato da audiência de Paulo diante de Festo. Lucas diz que “Agripa e Berenice vieram com grande pompa e entraram na sala da audiência com os altos oficiais e os homens importantes da cidade” (At 25:23). Sob a justificativa de pré-julgar Paulo, a reunião era um ato de solidariedade política entre os dois e uma procissão de celebridades e homens de negócios.

Ali estava Paulo que se apresentava não como guru espiritual, mas como um judeu devoto falando de sua conversão e do seu chamado. Ele não se intimidou com a “pompa e circunstância”. Perguntou a Agripa se ele acreditava no evangelho. Ele foi progressivamente cercando Agripa para que tomasse uma decisão. A reação de Agripa foi: “Você acha que em tão pouco tempo pode convencer-me a tornar-me cristão?” (At 26:28).

O que fez Agripa parar diante do quase em lugar de aceitar a salvação? Os amigos, os conhecidos, as personalidades que estavam ali na sala de audiência. E Paulo disse: “Não fique indeciso, majestade. Eu gostaria que não somente o senhor, mas todos os que estão aqui aceitassem a Cristo como eu aceitei.”

Quase foi o mais próximo que Agripa conseguiu chegar para ter a vida transformada. Que pena!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Capacidade de Valorizar o Outro!


Helen Keller tem sido admirada por todo o mundo. Nem sempre, porém, foi um exemplo atraente. Nascida cega, surda e cheia de energia, expressava suas frustrações em acessos de ira e raiva. Com ou sem provocação, ela se tornava fisicamente violenta e golpeava a pessoa ou o objeto mais próximo. O que quer que suas mãos achassem, tornava-se objeto de seus atos agressivos. Ela chutava, mordia e batia se fosse contrariada. Sua mãe tentava ser amiga e compreensiva. Seu pai gritava (como se ela pudesse ouvir), e até mesmo sugeria que ela fosse enviada para um manicômio. Um autor descreveu sua primeira infância como a de “um animal descontrolado e selvagem”.

Mas quando Helen completou seis anos, uma pessoa nova entrou em sua vida. Alguém com ternura e carinho. Alguém que cria em Helen e sentia através daqueles ouvidos surdos e olhos cegos. Alguém que sabia que Helen tinha um tremendo potencial encerrado em seu íntimo. Alguém que conhecia o milagre da valorização.

Ann Sulivan não era milagrosa. Ela própria tinha sido vítima de limitações, mas as tinha vencido e sabia que podia transmitir aquele toque inspirador sendo gentil e amorosa. Sabia como administrar disciplina e orientação, mas também sabia como fazê-lo com carinho e interesse. Durante os primeiros dias, Helen dava pontapés e mordia sua nova professora, jogava coisas nela e mostrava de todos os modos possíveis seu desafio e desobediência. Mas Ann era feita de fibra mais forte. Toda demonstração de raiva de Helen fazia com que Ann lhe mostrasse com firmeza que tais atos eram inaceitáveis. Ann lhe dava uma palmada gentil e lhe negava alimento, a menos que estivesse disposta a comer com boas maneiras, mas sempre recompensava Helen com um abraço ou um tapinha amável em resposta ao menor sinal de obediência de Helen.

Anos mais tarde, lembrando seu primeiro encontro, Helen escreveu: “Senti passos que se aproximavam e estendi a mão, como supunha, à minha mãe. Alguém a tomou, e fui abraçada e apertada. Ela viera revelar tudo para mim e, mais que qualquer outra coisa, amar-me”. Aquele amor abriu para Helen o belo mundo ao redor. Ela apegou-se a Ann Sullivan como a alguém que podia mudar sua vida, que podia dar visão sem olhos, audição sem a capacidade de ouvir e vida em toda a sua plenitude.

Como aconteceu isso? Ann Sullivan cria em Helen. Era positiva — sabia que um elogio pode extrair todas as possibilidades ocultas numa criança desamparada.

Que é valorização?

A palavra correspondente em inglês significa “tornar firme” ou “dar força a outro”. Os psicólogos nos dizem que tendemos a definir o que somos no contexto de como os outros nos consideram. Todos ansiamos por valorização e encorajamento por parte de outrem. Essa aceitação nos dá um sentimento de integração e identidade.

Quando encorajamos a alguém com comentários positivos, nós, com efeito, lhe damos força para reconhecer seus dons e a contribuição que fazem à vida. Sem esta valorização, é dificil superar os problemas que enfrentamos na vida, é difícil sobreviver numa comunidade, escola ou local de trabalho onde a competição é a ordem do dia. Com efeito, sem o calor e o carinho que acompanham a valorização, é provável que fiquemos alienados.

Elogiar é talvez o toque mais terno de um ser humano em outro — um toque que nos encoraja a reconhecer o potencial que nos é dado por Deus. Em todos os meus anos como conselheiro vim a compreender que não há crescimento pessoal sem valorização. Como disse alguém: “O maior bem que fazemos aos outros não é dar-lhes nossa riqueza, mas mostrar-lhes sua própria riqueza”. Ou como Salomão se expressa: “Não te furtes a fazer o bem a quem de direito, estando em tua mão o poder de fazê-lo”; “A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado” (Provérbios 3:27; 11:25).

Na ausência de um elogio

Se as pessoas não recebem encorajamento e elogios daqueles ao seu redor, sentem-se inseguras e inadequadas. Isso por sua vez pode levá-las a agir de modo estranho, só para se sentirem aceitas, aprovadas e apreciadas pelos outros. Alguns passam a “agradar” as pessoas e esperam que outros os elogiem pelo bem que fazem. Podem até deixar que outros “andem por cima deles” a fim de receber o elogio de serem “gentis” ou “cooperadores”. Outros podem se tornar viciados no trabalho, na esperança de que seu desempenho vá deslumbrar e atrair os elogios alheios. Outros podem se tornar perfeccionistas, esforçando-se por fazer seu trabalho perfeito ou insistindo em ter sempre as respostas corretas para os problemas que enfrentam. Todo este comportamento perfeccionista é motivado pela esperança de que “se eu fizer bem ou se tiver a resposta certa, serei respeitado e apreciado pelas pessoas”. Ainda outros assumem o papel de mártires, na esperança de que, por seu sofrimento, sejam apreciados como um “santo”, enquanto outros adotam um comportamento autoritário na esperança de que, ao controlarem situações e pessoas, sejam apreciados por sua habilidade. Seja qual for o comportamento, as pessoas procuram provar seu valor e solicitam os elogios de que necessitam para executar suas tarefas em favor de outros na comunidade.

Jesus e a valorização

Jesus conhecia o valor do elogio. Tudo o que Ele dizia e fazia visava a encorajar e edificar os outros. Suas palavras possuíam grande poder curativo. Seu toque gentil curava os feridos, restaurava os quebrantados de coração e confortava os ansiosos. Suas palavras de apreço encorajavam os indivíduos a se erguerem acima de suas frustrações e atingirem seu pleno potencial. Ele conferia poder às pessoas.

Jesus confortou o ladrão arrependido na cruz, quando lhe prometeu Sua companhia no paraíso. Jesus tranqüilizou Zaqueu. Disse-lhe que, embora outros o desprezassem, Ele o considerava cidadão de Seu reino. “Hoje houve salvação nesta casa” (Lucas 19:9).

Jesus valorizou as criancinhas. Os discípulos queriam livrar-se delas, mas não Jesus. Ele cria na possibilidade de aquelas crianças se tornarem parte de Seu reino. “Deixai vir a Mim os pequeninos”, disse Ele, “e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus” (Lucas 18:16).

Considere a viúva que foi ao templo com uma oferta de apenas dois vinténs. Os dirigentes da sinagoga não tinham tempo nem emprego para ela. Mas Jesus reconheceu nela uma devoção total à causa de Deus: “Ela, porém, de sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento” (Lucas 19:9). Isso é valorização.

Observe também como Jesus deu um voto de confiança à mulher apanhada em adultério. Seus acusadores estavam prontos, com a lei e as pedras. Queriam justiça. Farejavam sangue. Jesus não Se concentrou no pecado, mas na pecadora carente de graça. Ofereceu-lhe perdão, aconselhando-a: “Vai, e não peques mais” (João 8:11). Isto é fortalecer a auto-estima: crer que a mulher, embora pecadora, pudesse estender a mão e apegar-se à graça e ao perdão de Deus — e viver os desígnios de Deus para ela.

Esse otimismo edifica as pessoas. Fortalece-as para viver uma nova vida. Encoraja-as a ver o novo eu interior.

O desafio de edificar

Talvez seja tempo de lembrar as palavras do apóstolo: “Consolai-vos, pois, uns aos outros, e edificai-vos reciprocamente” (I Tessalonicenses 5:11). O apóstolo cria que devíamos estimular-nos uns aos outros “ao amor e às boas obras,…e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hebreus 10:24, 25).

Mas como elogiar? Aqui estão três sugestões:

1. Simplesmente o faça! Não subentenda que os outros saibam o que você sente e quanto você os aprecia. Diga-lhes. A intenção de elogiar só é boa quando você lhe obedece.

2. Faça-o freqüentemente! Muitos de nós somos como um vazamento lento num pneu: precisamos ser “bombados” com freqüência. Precisamos receber encorajamento e ânimo uns dos outros. Assim não só devíamos elogiar, mas fazê-lo freqüentemente.

3. Não se sinta repelido por aqueles que têm dificuldade em aceitar seus elogios. Alguns têm dificuldade para aceitar elogios. Podem retrucar dizendo: “Ah, você não precisava fazer isso”. Mas lembre-se de que a melhor maneira de receber um elogio é fazê-lo. Quanto mais você dá, tanto mais sobra.

Lembre-se do que Salomão disse: “Quem dá a beber será dessedentado” (Provérbios 11:25).

Bryan Craig é conselheiro matrimonial e diretor dos Ministérios da Família na Divisão do Sul do Pacífico. Seu endereço: Locked Bag 2014; Wahroonga, NSW 2076; Austrália. E-mail: 102555.1501@compuserve.com

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Deus é por Nós - A Mensagem de Romanos 8 é Confortadora!


Embora toda a Bíblia Sagrada seja fruto da inspiração divina, cada um de nós tem os seus textos preferidos. São aqueles que, por alguma razão particular, falam mais de perto ao nosso coração e por isso são especiais. Um deles é o que se encontra na carta de Paulo aos Romanos, capítulo 8. Estou de pleno acordo com os eruditos bíblicos que afirmam ser este o mais importante capítulo de toda a Bíblia. Nenhum outro possui uma mensagem tão ampla, profunda, bela e animadora, como este. A riqueza de seu conteúdo é, de fato, impressionante. De modo destacado ele apresenta as grandes ações de Deus em nosso benefício. Vamos examiná-lo? Antes, porém, relembremos um incidente relatado na Bíblia.
Um homem seguia a pé, sozinho, por uma estrada. Repentinamente um bando de malfeitores o cerca e ele percebe que aqueles indivíduos estão contra ele. Então foi roubado, espancado, ferido e deixado semimorto. Estava ali, só. Não tinha dinheiro. Não tinha roupas. Não conseguia caminhar. Não conseguia nem se levantar. Nada podia fazer por si mesmo. Precisava de alguém que ficasse ao seu lado e o ajudasse, alguém que tratasse de suas feridas, que lhe arrumasse o que vestir e o que comer, e que o conduzisse a um lugar seguro.
Depois de algum tempo, ele ouve os passos de alguém, que acabou não chegando perto o suficiente para se interessar por ele. Mais tarde, outro passa pelo local, e também se desvia.
Finalmente, alguém toca em seu corpo e, enquanto profere palavras de ânimo, conforto e esperança, se põe a limpar suas feridas, coloca-o sobre o seu animal, leva-o a um lugar seguro e acolhedor e cuida dele (Luc. 10:30-37).
As coisas que o bom samaritano fez demonstraram que ele estava do lado do que fora ferido. Em Romanos 8, Deus também nos diz que os Seus feitos demonstram que Ele está do nosso lado. Assim, no verso 31 lemos: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Que coisas são essas que evidenciam claramente que Deus está empenhado em nossa salvação? São aquelas mencionadas nos versos precedentes. Vejamos.

Deus enviou o Seu Filho – Primeiramente, Deus enviou “o Seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa” (verso 3). Olhando para a nossa miséria e necessidade, Deus, em Sua compaixão, enviou o Seu amado Filho para que Se tornasse um de nós. Aquele que era somente Deus tornou-Se homem também. Ele não era em semelhança de carne. Ele era carne, isto é, possuía carne, ossos, sangue e pele. Sentia frio e calor, fome e sede, cansaço e sono. Podia ficar doente e ser tentado e pecar e até morrer. Mas Ele não era carne pecaminosa, era em semelhança de carne pecaminosa. Assim, nunca houve pecado nEle. Não possuía natureza pecaminosa e nem cometeu atos pecaminosos. Embora fosse tentado muito mais do que qualquer outro ser humano, jamais pecou em ações, palavras e pensamentos.
Sim, Jesus Cristo, o Filho de Deus, foi enviado pelo Pai a fim de nos salvar. Individualmente podemos aceitá-Lo ou rejeitá-Lo como nosso único Salvador. Se O aceitamos, recebemos algumas preciosas bênçãos, que o apóstolo menciona no início do capítulo. Diz o verso 1: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Uma vez que todos somos pecadores e que desde o início de nossa vida até hoje temos cometido muitos pecados, e, por isso, somos culpados e dignos de condenação, como é possível alguém ficar completamente isento de qualquer condenação?
Após viver uma vida perfeita, impecável, o que jamais qualquer ser humano conseguira, Jesus morreu em uma cruz, em nosso lugar e em nosso favor. Ele levou sobre Si os nossos pecados e sofreu toda a condenação que nós merecíamos. Assim, quando hoje cremos no que Ele fez por nós, O aceitamos como nosso substituto. Não temos mais culpa, porque Ele foi culpado, não estamos mais condenados, porque Ele foi condenado. Ele sofreu e morreu por nós. Por causa de Cristo estamos libertos de toda e qualquer condenação! Você crê nisto?
Outra bênção que nos vem por meio de Cristo está no verso 2: “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte”. A palavra lei possui diversos significados na Bíblia, dependendo sempre do contexto em que está inserida. Neste caso, trata-se da “lei do pecado e da morte”, que é uma referência àquela força que existe em nosso íntimo e que nos impele a pecar e que nos conduz à morte eterna, à eterna separação de Deus. No capítulo anterior Paulo se reportou a ela ao declarar: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. … Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros”. (Rom. 7:18, 22 e 23.) Sim, somos por natureza pecadores, pois há um inimigo dentro de nós, uma força maligna que nos torna prisioneiros do pecado.
Faz algum tempo, os telejornais apresentaram uma notícia sobre o homem mais gordo do mundo. Pesava 495 quilos. Sentiu-se mal e chamou um serviço médico. Para conduzi-lo a um hospital, tiveram que rebentar a parede de sua casa porque lhe era impossível passar pela porta. Para colocá-lo em uma ambulância, tiveram que contratar um guincho. Ele tinha compulsão por comer. Simplesmente não conseguia parar de comer. Também há aqueles que têm compulsão para beber, para roubar, para matar, para comprar coisas, para mentir, enfim, para praticar o mal nas suas mais variadas formas. Por natureza somos cativos do pecado e temos compulsão para pecar.
Todavia, em Cristo Jesus, somos libertos dessa força maligna. Na verdade, ainda vamos ser tentados, ainda poderemos vez e outra falhar; todavia, não há mais compulsão para pecar, o encanto e o poder
do pecado sobre nós foram vencidos, os grilhões foram quebrados e recebemos um poder especial de Deus, o qual é muito mais forte e nos coloca em condições de fazer a Sua vontade. ( João 1:12.)
Vemos, assim, que ocorre um duplo livramento. Somos livres não só da
condenação, por meio do perdão, mas também do poder do pecado, da compulsão para pecar, por meio do poder de Deus. Em todo perdão oferecido por Deus vai embutida uma dose de poder para que a pessoa seja vitoriosa sobre aquele pecado confessado e perdoado.
Deus nos concedeu o Seu Espírito – Outro feito divino que evidencia que Deus está sumamente interessado em nossa eterna felicidade, é a dádiva do “Seu Espírito que em vós habita” (verso 11). O Santo Espírito de Deus é enviado para trabalhar com toda a humanidade ( João 16:7 e 8) e Ele busca ter acesso a cada coração. Para tanto, pode usar um exemplar da Bíblia Sagrada, um folheto, um cântico evangélico, as palavras de um amigo, a mensagem de um sermão numa igreja, no rádio ou na TV, um artigo numa revista, enfim, Ele tem mil  maneiras de nos atrair para Cristo. Mas nesta obra Ele opera sempre externamente. Contudo, quando alguém consente com Sua obra e crê no Filho de Deus, a porta do coração é aberta e o Espírito entra para tomar posse do coração e da vida. E Ele não vem para passar um fim de semana ou umas férias, Ele vem para ficar e ficará permanentemente se nós permitirmos. Agora, habitando em nós, Ele pode continuar a obra que começou fora de nós, contudo, muito mais eficazmente. O que Ele faz, então?
O Espírito nos livra de uma vida carnal. “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós” (verso 9). Neste capítulo, o apóstolo faz uma comparação e, ao mesmo tempo, um contraste entre estar na carne e estar no Espírito. O que isto significa? A vida na carne é a vida sem Deus. É a vida que se vive como se Deus não existisse. A pessoa carnal é aquela que vive para agradar a si mesma. Ela é o centro de sua vida. Ao tomar uma decisão, ela se pergunta: Isso me agrada? E se a resposta for afirmativa, então ela vai, faz, compra, usa, come, se envolve… Sua vida é contrária aos caminhos de Deus. Entretanto, a vida no Espírito é aquela em que Deus é o ponto de referência, Ele é o centro. Ao tomar suas decisões, o indivíduo pergunta: É isso da vontade de Deus? É esse o caminho que Deus quer que eu siga? Em suma, a vida tem como objetivo agradar a Deus.

Tratando destas coisas, o apóstolo escreveu: “Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós” (versos 5-9).

O Espírito nos guia. O verso 14 fala dos que “são guiados pelo Espírito de Deus”. Em meio a nossas lutas e incertezas, temos o privilégio de poder contar com Sua direção. Uma das maneiras pelas quais isso acontece ocorre através da Bíblia Sagrada. Aquilo que está ali anotado foi escrito por homens “movidos pelo Espírito Santo” (II Pedro 1:21), de modo que cada crente pode dizer como o salmista: “Lâmpada para os meus pés é a Tua palavra e luz para os meus caminhos” (Sal. 119:105). Como um caminhante que percorre uma senda rústica e desconhecida, numa noite escura, se deixa guiar pela luz de uma lanterna, assim devemos seguir no caminho apontado pela Palavra de Deus.
Contudo, por mais sagrada e importante que seja a Bíblia, a guia do Espírito não está limitada ao que ela pode fazer por nós. Na verdade, há situações que enfrentamos no dia-a-dia, para as quais ela não dá uma clara orientação. Aí, quando a Bíblia é limitada, o Espírito não o é. Ele nunca guia em oposição às Escrituras, mas Ele pode ir além delas. Assim, um cristão quer comprar um apartamento para morar com sua família. Depois de muito pesquisar, descobre três apartamentos em bairros diferentes, de valor semelhante, que, a princípio, lhe agradam. Mas precisa escolher apenas um. Qual? Não adianta ler a Bíblia. Ela não pode guiar nessa decisão. Mas o Espírito pode. Se ele orar ao Senhor e suplicar a Sua direção, de algum modo o Espírito poderá levá-lo a efetuar a melhor escolha. O mesmo ocorre quando precisamos escolher a faculdade a cursar, a carreira a seguir, com quem casar e quando nos deparamos com tantas outras decisões. Que privilégio é o nosso de termos tanto a Bíblia como o ilimitado Espírito de Deus para nos guiar!
O Espírito ajuda em nossas fraquezas. “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza.” (verso 26). Embora sejamos convertidos, ainda somos humanos e fracos, ainda continuamos rodeados por tentações e pecados. Mas não estamos sós. O Espírito de Deus está conosco, poderoso e pronto para nos socorrer nos momentos e nas situações de fraqueza.
Uma de nossas fraquezas é que, às vezes, “não sabemos orar como convém”. (verso 26). Fazemos a Deus determinados pedidos que, felizmente, não são deferidos. Pedimos coisas pensando que seriam boas para nós, mas Deus, que percebe tudo quanto está envolvido, e que além de possuir todo o poder tem também toda a sabedoria e amor, nos concede o que é melhor, o que convém, e não o que queremos. É o “Espírito” de Deus que “intercede por nós sobremaneira” (verso 26), para que seja assim.

O Espírito nos dá a convicção de que somos filhos e herdeiros de Deus. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. …mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coherdeiros com Cristo.” (versos 14-17).
É obra do Espírito nos dar a convicção de que somos filhos de Deus de modo que já não haja mais espaço para a dúvida. Não indagaremos: Será que Deus me perdoou? Será que Deus me recebeu em Sua família? Teremos certeza de que o perdão e a filiação divinos são nossa realidade.
Isto pode ser visto na vida do próprio apóstolo Paulo. No passado fora perseguidor da igreja e responsável pela prisão e morte de cristãos. Muitos anos se passaram e chegou a sua vez de ser aprisionado. Isto ocorreu a mando do imperador Nero e porque Paulo era um pregador do evangelho, o que, então, era proibido. Pressentindo que seria morto, escreveu sua última carta, destinada ao melhor amigo, ao seu filho na fé, Timóteo. Ali, já quase na conclusão, ele declara: “…o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto Juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda” (II Tim. 4:6-8).
Nos dias de Paulo, na sociedade romana, um filho carnal sempre era herdeiro, mas o mesmo não ocorria com os filhos adotivos. O apóstolo, então, se apressa em dizer que também somos herdeiros. Há algum tempo, um caminhão que transitava numa rodovia, trazia o seguinte letreiro: “Não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono”. Quando li estas palavras, pensei: “Eu também!” Nosso Pai é o Criador e Possuidor de todo o Universo e, todos nós que somos Seus filhos, podemos contar com a herança reservada para nós, a qual começaremos a receber quando Jesus retornar à Terra.
Vemos, assim, pelo que Deus tem realizado, que Ele, de fato, é por nós. Deus o Pai, Seu Filho e Seu Espírito Santo estão do nosso lado. Aquele que tem todo o poder, toda a sabedoria e todos os recursos está conosco. Como poderemos então fracassar?
Resultados – Estas grandes realidades culminam em tremendos resultados, que são apresentados no final do capítulo.
Não haverá derrota. Somos mais que vencedores”, porque “Deus é por nós” (versos 37 e 31).
Não faltará nada necessário. “Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura, não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas?”(verso 32). Se para Deus houvesse algo difícil de fazer por nós, isto seria dar o Seu próprio Filho para nos salvar. Em sua argumentação o apóstolo está dizendo que Aquele que já fez o mais difícil logicamente fará o resto que é muito mais fácil. A morte de Cristo nos assegura que Deus nos dará tudo o mais que for necessário para sermos vitoriosos.

Não haverá acusação. “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica.” Deus é o único que conhece com perfeição o nosso coração e a nossa vida, e se Ele nos perdoa completamente e nos transforma, se Ele nos torna justos e declara que somos justos, por causa de nossa fé em Cristo, ninguém nos poderá acusar. Quem somos nós para se acharmos no direito de apontar o dedo para alguém e acusar? Todos, sem exceção, somos pecadores.

Não haverá condenação. “Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós.” Ao morrer na cruz, após uma vida de perfeita obediência, Jesus venceu definitivamente o pecado, a tentação e o tentador; ao ressuscitar venceu a morte e, hoje, junto ao trono de Deus, Ele intercede por nós, creditando Sua vitória a nosso favor. Todas estas ações do Filho de Deus têm sido feitas para benefício nosso, de modo que estejamos livres de toda a condenação.

Não haverá separação do amor de Cristo. “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? … Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (versos 35, 38 e 39).
Ninguém nos pode separar do amor de Deus. Nenhum anjo, nenhum príncipe das trevas, nenhum amigo ou inimigo, nenhum parente, nenhum vizinho, nenhum membro de qualquer igreja. Podem nos caluniar, podem zombar de nós, podem nos ferir e maltratar, podem até nos matar, mas, nem todos os demônios e homens maus juntos podem nos separar do amor de Deus, se nós não quisermos. Através dos tempos incontáveis, mártires deram prova desta verdade. Em todo o Universo, a única pessoa que nos pode separar de Deus somos nós mesmos, e nós não queremos.
Nada que aconteça no tempo presente, ou nos dias futuros, poderá afastar-nos desse amor. Deus nos permite viver um dia de cada vez, e por vivermos em um mundo dominado ainda pelas forças do mal, cada dia traz consigo sua cota de males (Mat. 6:34). Não sabemos como serão os nossos dias, mas sabemos que, enquanto aqui estivermos, nos defrontaremos com o mal. Contudo, temos a segurança de que nunca ele será tão grande que não possa ser vencido.
Nenhuma situação, por mais difícil que pareça, nem a fome, nem a perseguição, nem mesmo a morte, poderão separar-nos de Seu amor.
Em meio a nossas lutas e tentações, lembremos sempre que Deus é por nós e que não há nada e ninguém que nos possa separar de Seu amor, que estaremos em Seu eterno reino e que seremos mais que vencedores, porque Ele quer e nós queremos.
Texto de autoria de Emilson dos Reis, professor do SALT, no IAE-Campus 2, publicado na revista Adventista de Jan/2000.

Adaptação: Amaury Júnior.

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